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Reconstrução de Cenas com Inteligência Artificial: Limites e Possibilidades

reconstrução de cena criminal com inteligencia artificial

Em um crime sem testemunhas visuais diretas, onde apenas partes da cena foram registradas por câmeras de segurança ou celulares, a reconstrução dos fatos se torna um quebra-cabeça — e a tecnologia vem oferecendo novas peças. A reconstrução de cenas com inteligência artificial (IA) permite modelar ambientes, simular trajetórias e até prever o que pode ter acontecido fora do campo da câmera.

O que é reconstrução assistida por IA?

Trata-se da criação de um modelo visual tridimensional, temporal ou animado de uma cena criminal, utilizando:

  • Imagens reais (vídeos, fotos, capturas de drones);
  • Dados periciais (medidas, distâncias, laudos balísticos);
  • Algoritmos de interpolação e simulação, baseados em padrões comportamentais.

O objetivo não é “inventar” a cena, mas simular versões plausíveis baseadas nas evidências conhecidas — sempre sob supervisão de peritos humanos.

Técnicas e ferramentas usadas

  1. Modelagem 3D com base em vídeos de múltiplas câmeras;
  2. Interpolação temporal para preencher lacunas entre vídeos com diferentes horários;
  3. Reconhecimento de trajetória e colisão com softwares como Unity, Blender Forensics, FARO Zone 3D;
  4. Realidade aumentada para permitir que juízes e jurados explorem a cena de forma imersiva.

Limites legais e éticos

A reconstrução com IA não pode ser usada como prova autônoma, mas como ferramenta ilustrativa ou de apoio. Ela deve sempre vir acompanhada de um laudo técnico explicando a metodologia, as margens de erro e as fontes de dados.

Além disso, é necessário garantir que não se criem elementos fictícios que influenciem o julgamento, como expressões faciais inventadas, armas não registradas ou trajetórias presumidas como certezas.

Exemplo prático

Em um caso de duplo homicídio no interior de Minas Gerais, os únicos registros disponíveis eram imagens parciais de câmeras externas e a posição dos corpos no local. A perícia utilizou IA para reconstruir a provável movimentação das vítimas e do agressor, com base em tempo, sombra, ângulos e distância. A simulação auxiliou o júri a compreender a dinâmica do crime e a refutar uma tese de legítima defesa.

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