Cenas de conflito entre vizinhos tornaram-se comuns nas câmeras de segurança. Mesmo sem som, esses registros revelam muito mais do que aparentam. Em vídeos sem áudio, a linguagem corporal, os gestos e as expressões faciais podem se transformar em provas técnicas de ameaça, intimidação ou agressão.
Para os peritos audiovisuais, cada movimento conta. A ausência de som não é um obstáculo, mas um convite à observação minuciosa: o corpo fala, e fala alto.
O que é a análise de comportamento não verbal?
É o processo de interpretação de gestos, posturas, expressões e direções de movimento de indivíduos gravados em vídeo. A técnica permite identificar intenções, emoções e padrões de interação, especialmente quando não há captação sonora.
Essa leitura é essencial em casos em que o vídeo registra apenas imagens — situação comum em câmeras de elevadores, corredores ou portarias de condomínio.
Como os peritos realizam essa análise?
A perícia segue protocolos técnicos:
- Estabilização e limpeza do vídeo, para eliminar tremores e ruídos visuais;
- Identificação das fases da interação — aproximação, contato visual, gestualidade, afastamento;
- Análise da direção dos gestos e do olhar, observando quem inicia o confronto;
- Interpretação das expressões faciais (raiva, medo, desprezo, surpresa);
- Correlação com o contexto espacial, como distâncias, barreiras e rotas de fuga;
- Registro de possíveis sinais de ameaça, como punhos cerrados, apontamentos e posturas invasivas.
A leitura é sempre feita com base em padrões científicos de comportamento não verbal, podendo ser complementada por leitura labial se houver movimentos articulatórios nítidos.
O que exige do perito?
Conhecimento em análise comportamental, microexpressões e cinésica, além de domínio técnico em vídeo e imagem. O profissional deve atuar com neutralidade e basear suas conclusões em evidências observáveis, não em interpretações subjetivas.
Em que casos essa perícia é aplicada?
- Discussões entre vizinhos sem áudio;
- Ameaças gestuais captadas por câmeras de segurança;
- Alegações de agressão física ou moral em áreas comuns;
- Conflitos em condomínios que exigem comprovação de autoria e intenção.
Exemplo prático
Em um condomínio residencial, uma moradora denunciou vizinho por ameaça. O vídeo, sem som, mostrava ambos discutindo no corredor. A perícia de comportamento não verbal identificou expressão facial de raiva, gesto de apontar o dedo próximo ao rosto da vítima e movimentos de avanço corporal. O conjunto foi classificado como conduta ameaçadora, corroborando o relato da vítima.
Em outro caso, o perito concluiu que um suposto empurrão era, na verdade, um gesto de defesa, ao analisar reação facial de susto, recuo corporal e ausência de impulso ofensivo.
Esses laudos ajudam a transformar imagens silenciosas em provas falantes, permitindo que a Justiça enxergue o que, muitas vezes, não se ouviu.









