Nem todo vídeo mostra o que realmente aconteceu. Com a popularização de softwares de edição e inteligência artificial, falsificações tornaram-se mais sofisticadas — mas também mais rastreáveis. Para o perito audiovisual, cada pixel pode ser uma pista.
Identificar se um vídeo foi editado, recortado ou adulterado é uma das etapas mais delicadas e decisivas da perícia técnica. Uma manipulação, mesmo discreta, pode alterar o sentido da prova e comprometer a verdade dos fatos.
O que é a análise de autenticidade em vídeo?
É o processo que busca confirmar se o material apresentado é original e íntegro, sem interferências posteriores. O perito compara o arquivo com padrões técnicos e examina o conteúdo quadro a quadro, em busca de indícios de edição, colagem, substituição ou montagem.
Essa verificação é essencial para que o vídeo seja aceito como prova válida em processos judiciais, administrativos ou corporativos.
Como os peritos identificam manipulações?
A análise combina observação humana detalhada e ferramentas forenses digitais:
- Verificação de metadados – data, hora, dispositivo e codec de gravação;
- Cálculo de hash digital – código único que comprova a integridade do arquivo;
- Análise de frames – comparação quadro a quadro para detectar cortes ou inserções;
- Detecção de artefatos visuais – falhas de compressão, sombras incoerentes ou bordas duplicadas;
- Verificação de continuidade temporal – saltos, travamentos ou lacunas na sequência;
- Comparação de trilhas de áudio e vídeo – descompasso ou supressão pode indicar edição.
Em vídeos mais complexos, o perito pode recorrer a softwares de análise espectral, algoritmos de deepfake detection e ferramentas de rastreamento de pixels.
O que exige do perito?
Conhecimento técnico em formatação de arquivos digitais, compressão de vídeo e processos de edição, além de experiência prática em laudos audiovisuais. A atuação deve ser documentada passo a passo, assegurando transparência e reprodutibilidade.
Em que casos a perícia de autenticidade é solicitada?
- Disputas judiciais com vídeos de agressão, ameaças ou furtos;
- Conflitos trabalhistas baseados em registros de câmeras corporativas;
- Processos criminais com suspeita de montagem ou omissão de trechos;
- Provas apresentadas em redes sociais sem origem confirmada.
Exemplo prático
Em um processo de denúncia por assédio, a defesa apresentou um vídeo “completo” do ocorrido. O perito, ao analisar os metadados, encontrou lacuna de 12 segundos entre frames e alteração de taxa de compressão, indicando edição. O laudo concluiu que o vídeo havia sido recortado, e o juiz desconsiderou o material como prova.
Em outro caso, um vídeo de segurança mostrava suposta agressão física. A análise de sombras e reflexos revelou bordas sobrepostas, confirmando inserção de imagem. A perícia foi decisiva para provar a falsificação.
Na era da pós-verdade, vídeos não falam sozinhos. É a perícia que dá voz à verdade técnica — e impede que a imagem, por si só, se torne uma mentira convincente.









