O futebol brasileiro é paixão nacional. Mas, infelizmente, essa paixão ainda convive com episódios de racismo nos estádios. Quando as ofensas se perdem no barulho das arquibancadas ou se escondem entre torcedores, como provar que houve crime? É aí que entra um aliado cada vez mais poderoso da justiça: a perícia técnica em vídeo.
Tecnologia no combate ao racismo
Com a popularização das câmeras de alta definição nos estádios e a multiplicação de vídeos feitos por torcedores com seus celulares, as imagens se tornaram testemunhas silenciosas de casos de injúria racial. No entanto, transformar esses registros em provas técnicas válidas exige conhecimento especializado.
“Um vídeo bruto por si só não é uma prova judicial. Ele precisa ser analisado, contextualizado, e acima de tudo, autenticado”, explica Valéria Leal. A tarefa vai muito além de assistir a gravações: envolve técnicas de realce de áudio e imagem, sincronização de múltiplas fontes e até leitura labial em alta resolução.
Como funciona a perícia?
Quando uma suspeita de injúria racial é investigada, o perito recebe os materiais audiovisuais coletados no local: gravações da transmissão oficial, imagens de segurança do estádio, vídeos de celulares de torcedores e, em alguns casos, áudios captados por microfones de campo.
A análise segue etapas rigorosas:
- Validação dos arquivos: garante que não houve edições ou adulterações.
- Sincronização de fontes: permite cruzar diferentes ângulos para identificar autores e vítimas.
- Isolamento de áudio: filtros e espectrogramas ajudam a extrair falas abafadas por ruído ambiente.
- Leitura labial e cruzamento fonético: útil quando o som não é claro, mas a imagem da fala está nítida.
- Geração de laudos técnicos: com embasamento científico, servem como prova judicial.
“O perito não acusa, ele revela. Nosso papel é fornecer à Justiça os elementos técnicos que comprovem — ou não — a existência de uma injúria”, afirma a especialista.
Casos emblemáticos e impacto social
Nos últimos anos, perícias de vídeo ajudaram a esclarecer episódios polêmicos e a responsabilizar torcedores e até jogadores. Em um caso recente, a análise detalhada de um vídeo feito da arquibancada foi decisiva para identificar o autor de uma ofensa racial dirigida a um atleta durante uma partida da Série A.
Para muitos profissionais, o avanço da tecnologia está mudando o jogo. “Agora, o que era dito impunemente em meio à multidão, pode ser isolado, identificado e levado à Justiça”, resume a perita.
Mais que provas, um instrumento de transformação
A atuação técnica dos peritos é, hoje, uma das ferramentas mais eficazes na luta contra o racismo no futebol. Mais do que punir, o objetivo é inibir comportamentos inaceitáveis e dar voz às vítimas. Afinal, não basta que o futebol seja bonito — ele também precisa ser justo. Confira AQUI um caso realizado pela ForensePRO sobre a dúvida se houve ou não injúria racial: