Na investigação forense moderna, qualquer detalhe pode ser decisivo — até mesmo o modo como uma pessoa caminha. A análise pericial de marcha, também conhecida como gait analysis, é uma técnica em expansão no campo da perícia audiovisual e tem ajudado autoridades a identificar suspeitos com base em vídeos de vigilância.
O que é a análise de marcha?
Trata-se do estudo do padrão biomecânico da caminhada de um indivíduo. Cada pessoa tem uma forma única de se locomover, influenciada por sua estrutura corporal, idade, lesões, hábitos e até questões neurológicas. A forma como os braços se movimenta, a largura dos passos, o tempo de apoio de cada pé — tudo isso compõe um “perfil de marcha”.
Esse perfil pode ser analisado a partir de imagens de câmeras de segurança, vídeos de celulares ou registros em ambientes monitorados.
Como os peritos fazem essa análise?
O trabalho começa com a coleta de vídeos relevantes, em que a pessoa de interesse esteja andando de forma visível. Em seguida, os peritos:
- Realizam o isolamento de quadros (frames) para análise detalhada da movimentação;
- Utilizam softwares de modelagem biomecânica, que detectam ângulos, frequência, ritmo e simetria da marcha;
- Comparam os dados com vídeos de referência da pessoa suspeita (quando disponíveis);
- Avaliam possíveis pontos de correspondência ou divergência com base em critérios técnicos.
É essencial que os vídeos tenham qualidade mínima e captem a marcha com nitidez suficiente. Ainda assim, mesmo com material limitado, a perícia pode obter elementos indiciários relevantes, especialmente quando combinada a outras provas.
Teoria por trás da técnica
Estudos científicos indicam que a marcha humana é relativamente estável ao longo da vida adulta e difícil de ser simulada com precisão. Isso a torna um biomarcador comportamental útil, embora não absoluto — motivo pelo qual a análise deve sempre ser acompanhada de outros elementos de investigação.
Quando essa perícia é aplicada?
- Casos em que o rosto do suspeito está coberto, mas a marcha está visível;
- Investigações envolvendo ações repetidas filmadas (furtos em série, por exemplo);
- Situações em que há vídeos comparativos do investigado (como câmeras de condomínio, vídeos nas redes sociais, etc.).
Em muitos países europeus, a perícia de marcha já é usada com regularidade. No Brasil, embora menos comum, ela tem ganhado espaço, especialmente em crimes registrados por câmeras públicas ou privadas.