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O que os olhos não veem, os metadados revelam: o papel oculto das informações digitais na perícia audiovisual

O que os olhos não veem, os metadados revelam o papel oculto das informações digitais na perícia audiovisual

Por trás de cada imagem, há uma história que não aparece na tela — mas fica gravada nos bastidores do arquivo. Essa história se chama metadado. Em uma era em que vídeos e áudios podem ser facilmente editados, saber o que está escondido no código é o que garante a autenticidade da prova.

Para o perito audiovisual, os metadados são como uma impressão digital invisível: registram quem gravou, quando, onde e como o arquivo foi criado. E quando há suspeita de edição, é neles que a verdade costuma aparecer primeiro.

O que são metadados?

Metadados são informações técnicas incorporadas ao arquivo, automaticamente geradas no momento da gravação ou edição. Eles descrevem características como:

  • Data e hora exatas da captura;
  • Modelo e número de série da câmera ou celular;
  • Resolução, codec e taxa de quadros;
  • Localização GPS, quando disponível;
  • Histórico de edições e compressões.

Esses dados permitem que o perito reconstrua a trajetória do arquivo, verificando se ele foi alterado, recortado ou transferido entre dispositivos.

Como ocorre a extração pericial?

A extração é feita com softwares forenses especializados, que acessam as informações originais sem alterar o conteúdo. O processo segue etapas documentadas para garantir a integridade da prova:

  1. Criação de cópia forense (bit a bit), preservando o arquivo original;
  2. Leitura dos metadados embutidos, incluindo cabeçalho, carimbos e hash;
  3. Comparação com registros externos (relatórios de câmeras, logs, backups);
  4. Análise de inconsistências, como datas retroativas, saltos temporais ou ausência de GPS;
  5. Registro em laudo técnico, anexando evidências e capturas de tela.

Por que é tão importante?

Porque metadados não mentem — ao menos, não com facilidade. Alterar datas, horários ou códigos sem deixar rastros é extremamente difícil. Por isso, eles servem como prova de autenticidade e cronologia de um vídeo ou áudio.

Sem esses dados, não há como garantir que o arquivo apresentado é o mesmo captado originalmente.

O que exige do perito?

Domínio em tecnologia da informação, formatos de mídia e sistemas de gravação, além de conhecimento em segurança digital. Cada tipo de arquivo — MP4, MOV, AVI — possui estruturas distintas, e a leitura correta exige interpretação técnica precisa.

Em que casos a extração de metadados é decisiva?

  • Suspeita de edição ou montagem em vídeos de conflito;
  • Verificação de horários em crimes com múltiplas versões;
  • Análise de autenticidade em provas enviadas por aplicativos;
  • Reconstrução da linha do tempo em investigações corporativas ou judiciais.

Exemplo prático

Em um processo criminal, a defesa alegava que o vídeo havia sido gravado dias antes do crime. A perícia extraiu os metadados e comprovou que o registro foi feito exatamente no dia e horário da ocorrência, com geolocalização idêntica ao local do fato. O laudo técnico derrubou a tese de manipulação.

Em outro caso, um vídeo apresentado como prova sofreu duas recompressões, detectadas pelos carimbos de edição. O perito concluiu que o arquivo havia sido manipulado, e o material foi desconsiderado pelo juiz.

Na investigação digital, o que parece invisível é o que mais importa. São os metadados que sustentam a verdade técnica — e garantem que cada frame tenha história, hora e autoria comprovadas.

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