Nem sempre a prova audiovisual chega completa. Em muitos casos, os vídeos que chegam aos peritos estão fragmentados, corrompidos, com trechos apagados ou abruptamente cortados. Quando isso ocorre, a missão dos especialistas é reconstituir o que foi capturado, identificar possíveis adulterações e avaliar se houve manipulação intencional. Trata-se da perícia em vídeos fragmentados, uma especialidade cada vez mais requisitada.
Por que os vídeos chegam assim?
Existem várias causas para fragmentação de um vídeo:
- O equipamento de gravação pode ter sido danificado;
- O arquivo pode ter sido corrompido na transferência;
- O vídeo pode ter sido editado propositalmente para ocultar conteúdo;
- Ou ainda, o envio por aplicativos (como WhatsApp) pode comprimir e fragmentar os dados.
O desafio do perito é restaurar ao máximo a integridade do material, preservando a cadeia de custódia e mantendo a confiabilidade das informações.
Técnicas periciais aplicadas
- Recuperação de dados corrompidos: uso de ferramentas forenses como FFmpeg, Recoverit ou Stellar para tentar restaurar quadros perdidos.
- Análise de metadados: verificação de lacunas no tempo de gravação, identificação de interrupções suspeitas e checagem de sincronização.
- Identificação de cortes ocultos: técnicas como análise de transições abruptas, ausência de quadros esperados e comparação com trilhas sonoras revelam possíveis edições.
- Interpolação forense: quando trechos curtos estão ausentes, algoritmos podem estimar o conteúdo com base nos frames anteriores e posteriores — sem criar provas falsas, mas gerando entendimento de contexto.
Casos práticos
Em um caso de agressão filmada por celular, o vídeo enviado à polícia estava com 7 segundos iniciais ausentes. A perícia comprovou que o vídeo havia sido editado e recuperou parte da sequência apagada, revelando que o agressor havia provocado a vítima antes da suposta defesa. O laudo foi decisivo para a reclassificação do crime.
